Era uma vez... uma menina. Ela estava andando ha horas nas ermas estradas de terra do interior da Bahia, perdida que estava. Mas não tinha medo, estava tranquila pois sentia que nada de mal poderia lhe acontecer se seguisse o fluxo da vida. Depois de não aguentar mais andar naquela areia fofa, com seus pés já cansados, sentou um instante sob uma grande árvore que fazia uma bela sombra sob a luz daquela lua cheia nascente. Recostada no tronco, fechou os olhos e meditou sobre o que faria: ficaria ali parada esperando alguém aparecer, ou quem sabe amanhecer; ou continuaria a andar a procura do caminho que a levaria de volta à casa de sua anfitriã? Não conseguiu se decidir, mas abriu os olhos para fitar aquele enorme globo amarelado no céu, que aos poucos se transfigurava em azul. Passado um tempo, resolveu tentar uma derradeira vez achar o caminho de volta, mas também sem muita preocupação ou esperança. Estava uma noite tão bonita, e numa situação talvez única em sua vida - aliás, qual não é? - então não poderia deixar de contemplar...
Foi então que finalmente viu um casebre à beira da estrada, com uma luz bruxuleante acenando por uma janela aberta, uma luz convidativa. Chegou em frente à casa, bateu palmas. Parecia não ter ninguém - talvez estivessem dormindo, nem sabia que horas eram, mas pela posição da lua, não mais que 20h. Observou através da janela, rondou a casa, chamou, mas tudo em vão. Logo lembrou-se daqueles contos-de-fadas onde o protagonista entra na casa alheia, mas o resultado nunca é feliz. Ainda assim sentia-se obrigada a experimentar essa oportunidade, o ímpeto foi maior que o receio...
Era um casebre de dois cômodos relativamente amplos: sala e cozinha. A vela que emitia aquela luminosidade vacilante tinha ainda algumas horas de vida, pelas suas contas (costumava acender velas em seus pequenos rituais em sua casa). Estava exausta. Andar sob o sol quente do sertão a havia castigado, e a areia fofa então... talvez adormecesse ali e pensou que seria muito desagradável para os donos da casa encontrarem um "invasor" em seu lar. Ela se preocupava muito com esse tipo de coisa, em estar de certa forma invadindo o espaço alheio. Achou que era de bom grado deixar um bilhete explicando toda a situação. Mas e se não soubessem ler? Poderiam ser analfabetos, não é tão raro encontrar pessoas analfabetas por essas bandas do Nordeste. Mas isso também poderia ser um preconceito (na acepção mais original da palavra) seu... bem, sendo isso ou aquilo, lembrou que não tinha caneta. "Então seja o que os deuses quiserem, ou não!".
havia algo de peculiar naquele quarto: duas camas cuidadosamente arrumadas, uma de enchimento de palha, outra de enchimento de espuma. Uma era retandular e baixa, a outra mais alta e arredondada. Ambas cheiravam bem, e eram muito aconchegantes. Precisaria escolher uma, e agora? Qual é o critério? O critério é dormir bem. Mas, se as duas provavelmente proporcionarão uma boa noite de sono!? Ainda restavam outras dúvidas marginais como qual seria a cama de dono mais compreensível... "duas coisas tão diferentes nos pequenos prazeres e tão iguais em sua satisfação essencial". Ficou com tanta dúvida e estava com tanta vontade de se entregar a Orfeu, que dormiu no chão.
- O que vocês fariam no lugar dela? Qual das camas escolheriam? Ou não escolheriam?
~~Bons Sonhos~~
Um comentário:
Eu não sei se teria coragem de dormir sem permissões na cama de uma suposta pessoa que ali dorme toda noite. Acho que faria como ela, caia no chão no mesmo. Mas, supondo que eu teria coragem, se as duas proporcionariam o mesmo sono saudável eu cairia em qualquer uma mesmo.
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