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domingo, 19 de junho de 2011

Os desígnios da Deusa

Hoje assisti pela 3a vez o filme "As Brumas de Avalon", baseado na quadrilogia de Marion Zimmer Bradley. História ocorrida na época da ascensão do Cristianismo na Europa, que reconta a famosa lenda do Rei Arthur, através do olhar de uma protagonista que geralmente não era muito privilegiada no "contar" dessa lenda - Morgana, uma mulher, pagã. O filme contém diversos fatos interessantes, que sejam históricos ou ficção, rendem uma boa reflexão, especialmente, eu diria, aos seguidores do Antigo Caminho.
Não lembro o que mais me tocou das outras vezes que assisti o filme ou que li a obra, mas dessa vez, fiquei pensando sobre o que realmente significa "Os desígnios da Deusa", motivo aclamado no filme diversas vezes pelos protagonistas, especialmente Viviane, a grã-sacerdotisa de Avalon. É como se essa força que acreditamos, essa "inteligência superior", tivesse planos para nós todos. E será que tem? E se tem, quais serão os caminhos pelos quais seguiremos seus desígnios? Poderemos saber?
Outras religiões, como o cristianismo, tem uma lógica parecida, "seguir a vontade de Deus".
Será que Deus(a)/(es) tem vontades tão específicas, uma espécie de "capricho dos deuses"?
Dizem que somos criaturas muito pequenas para conceber "Deus".
Ao mesmo tempo que dizem que nós O inventamos, assim como inventamos tudo que provém Dele (ou Dela, ou Deles, enfim não vou ficar repetindo essa pluralidade toda hora).

Sinto que tudo isso pode ser verdade ao mesmo tempo. Se acreditamos que essa "inteligência máxima" existe, por que ela não poderia ter "planos" para nós? Se ela tem planos para nós, como é que vamos realmente saber? Pelo menos neste mundo, nesta forma, somos limitados, disso eu tenho certeza. E podemos inventar coisas, inclusive os desígnios (ou a interpretação desses) de um/a deus/a.

Isso não é descrença, nem ceticismo, nem nenhuma "Verdade". É apenas o que sinto. Já andei muito aflita por tentar entender quais eram os "desígnios da Deusa" para mim, e se eu estava seguindo o caminho certo...
Cheguei a conclusão que não existe o caminho certo. Existe aquele caminho que você acredita ser o certo, e pelo qual você deve seguir, sendo autêntico consigo mesmo, buscando manter os olhos e ouvidos abertos para aquilo que possa somar na sua vida.
Na minha interpretação, a Lenda escrita e reinventada por Marion, lança uma mensagem sutilmente: nem mesmo a Grande Sacerdotisa de Avalon conhecia os desígnios da Deusa. Ela sacrificou muitas coisas em prol desses desígnios, acreditando conhecê-los. Mas no final, as coisas tomam rumos inesperados. Acreditando seguir esses desígnios, as coisas tomaram caminhos imprevistos e ela coloca "a perder" todo o objetivo de sua vida: proteger a Religião da Deusa, a Antiga Sabedoria. Mas será que, se existem mesmo, não seriam justamente esses os desígnios da Deusa? (E será que esse objetivo não foi de certa forma alcançado?)
No final do filme (não se preocupe, quem ainda não viu, não vai perder a emoçao!), Morgana (sobrinha de Viviane, sacerdotisa de Avalon), olhando a figura de Maria, mãe de Jesus, e a devoção prestada a ela, vê que a Deusa tem suas próprias maneiras de continuar, independente do que façamos por isso. O que não quer dizer que por isso não precisemos fazer mais nada -- ou que devamos fazer alguma coisa; o fato de fazer ou deixar de fazer é por nosso próprio desejo e responsabilidade, e de mais nada ou ninguém.

Por isso caro leitor, amigo, ou pagão, não nos aborreçamos tanto em tentar entender; vivamos nossa vida da melhor forma, celebrando-na, por mais que não exista fórmula para isso.

2 comentários:

Artur Rios disse...

no livro Sidarta de Herman Hesse, tem uma passagem legal que tem a ver com isso... :

"Quando alguém procura muito, pode facilmente acontecer que seus olhos se concentrem exclusivamente no objeto procurado e que ele fique incapaz de achar o que quer que seja, tornando-se inacessível a tudo e a qualquer coisa porque sempre só pensa naquele objeto, e porque tem uma meta, que o obceca inteiramente. Procurar significa: ter uma meta. Mas achar significa: estar livre, abrir-se a tudo, não ter meta alguma. Pode ser que tu, ó venerável, sejas realmente um buscador, já que, no afã de te aproximares da tua meta, não enxergas certas coisas que se encontram bem perto dos teus olhos"

Lu Falcoa disse...

muito bom isso!