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sexta-feira, 8 de março de 2013

Sagradas Mulheres

Esse não é um texto feminista. Visa apenas abordar a visão/papel/situação da mulher hoje.

Começamos do conceito de sagrado feminino, tão difundido na religião Neopagã. O que chamamos de "ressurgimento do sagrado feminino" atualmente, não existiu dessa forma em nenhuma sociedade alem da nossa, e nem podia existir, pois o sagrado feminino é um conceito criado por nós para o "resgate" de uma ligação com o nosso proprio poder feminino, que consideramos perdido, ou adormecido.

É necessário entender que em sociedades mais remotas a separação entre o sagrado e o profano era muito tênue, isso quando existia essa separação. Viver e morrer fazia parte do sagrado, o mundo divino não era separado do mundo humano. Nada mais natural que a mulher, como "geradora da vida", "conhecedora dos mistérios do sangue" fosse vista com até certa devoção. Nem por isso era a mulher superior (tampouco inferior) ao homem: cada um tinha seu papel a cumprir na comunidade.

Como isso se transformou ao longo da História e como o dito Patriarcado dominou a ética social e a cosmologia do mundo ocidental é uma longa história... nesse texto cabe pensar no presente, no que temos em nossas mãos.

Vamos pensar na mulher no Brasil?

Um país em que a ditadura da beleza existe ;a brasileira tem que ser magra, mas com muitas, muitas curvas, bonita e sensual.
A cada poucos minutos, uma brasileira sofre violência doméstica. Foi aprovada uma lei para que esse número diminuísse,mas sabemos que,infelizmente,por inúmeros fatores, múltiplas vezes, essas mulheres não denunciam. Não denunciam por medo; por não querer ver o pai dos seus filhos numa cela (e porque muitas vezes esse mesmo homem é quem põe o sustento na casa); por vergonha; por amor; ou pela simples falta de consciência do quão isso é grave.

A gravidez na adolescência: esse é um dos temas mais difíceis de se falar para mim. Tive uma curta experiência com “meninas mães” na saúde pública e enquanto mulher, fico triste com todo contexto em que essas meninas se tornavam mães. Não estou aqui generalizando a situação de todas as que engravidaram na adolescência, mas de um grupo, de baixa classe social, que convivi. A falta de informação existe. Embora tenhamos campanhas vinculadas em meios populares, como a TV, as “crendices populares” muitas vezes chegam primeiro aos ouvidos dessas meninas do que “como por uma camisinha” por exemplo. A incerteza da adolescência, a esperança do amor eterno. Para muitas, a falta de perspectiva (muitas dessas meninas não tinham uma opção de lazer, uma opção cultural, nem uma faculdade ou curso técnico na cidade, muito menos empregos disponíveis). E principalmente, falta de consciência corporal! Perguntava-me quantas delas tinham realmente desejado o sexo, sentido prazer, tido um orgasmo. E de repente estavam lá, com esse fato, a gestação, com uma criança para educar. Embora todas as mulheres tenham o que chamam de instinto materno, nem todas estão prontas para ser mãe.

Todas essas mulheres são oprimidas, são vítimas da nossa sociedade. Sociedade de consumo, que vende o ideal de beleza, o ideal de amor e o ideal da vida da mulher, mas que não a ampara.

Gostaria que houvesse uma conclusão para esse texto, guiando-nos para o que fazer diante da injustiça e sofrimento que tantas sofrem. Mas se ela existe, a desconheço.

Algumas se manifestam e gritam para que sejamos ouvidas; outras trabalham com aquelas que vivem marginalizadas pela sociedade; outras cultivam a beleza; outras simplesmente não se submetem. Todos esses papeis são cruciais numa jornada tão antiga.
Que não seja esquecido quem somos, nossa força e nossa fragilidade! Muitas lutaram para que nossos direitos fossem reconhecidos. Que não nos acomodemos, que continuemos lutando para que eles possam ser cumpridos. Que não fechemos os olhos diante da injustiça. Que simplesmente, não nos calemos.

Um comentário:

Sol Mascarenhas Neves disse...

No fim, acaba sendo um texto feminista! E ainda bem, por que não?
Falar do Sagrado Feminino, ou das inquietações e preocupações sobre a mulher, que somos, é ser feminista. Paremos com esse ranço, pra assumir uma postura real.
E sem preconceitos.
Adorei o texto.
bjss